Quando morar sozinho?

A função principal da família é preparar o indivíduo para conviver de forma saudável na sociedade. Esta preparação envolve os aspectos: físico, de saúde, conforto, capacidade de prover sua subsistência, equilíbrio emocional e capacidade de discernimento. Para que isso aconteça, ele terá que ter sido nutrido de carinho, de afeto, educação e disciplina que formem uma estrutura psicológica sustentável.

Por se sentir amado e aceito o indivíduo desenvolve a auto-estima segurança e criatividade no lidar com os problemas e ainda ,uma estrutura mental baseada na educação e no diálogo que é responsável pela formação de valores que nortearão sua vida futura fora do lar. Este aprendizado é feito na medida em que desde cedo , a pessoa participando inteiramente da família e dos seus problemas, desenvolve a capacidade para resolver dificuldades de relacionamento com os membros da família, conquista seu espaço físico (um quarto para si só) emocionalmente se torna equilibrado e adquire a confiança dos pais e irmãos e mentalmente ganha credibilidade na sua forma de circular na vida e de prover o seu sustento.

Nos tempos idos, era comum que os filhos convivessem no seio da família até ficarem prontos para assumir a responsabilidade por suas próprias vidas e formar uma nova família.

Hoje, é cobrado dos jovens que tão logo atinjam a maioridade, passem a morar sozinhos independentemente de estarem formando uma nova família. Entretanto, a maturidade não está vinculada a idade cronológica e muitos são os que , despreparados emocionalmente, enfrentam sérias dificuldades ao tomarem esta atitude apenas por modismo ou por terem condições financeiras para tanto.

O que deve definir o morar só ou não é a necessidade real enfrentada pelo jovem de ter sua vida própria. Ter mais espaço físico, se não consegue ter em casa seu quarto sozinho, se não tem em casa condições de tranqüilidade e sossego para executar suas atividades de estudo ou trabalho por conta de um mal relacionamento dos pais ou da falta de maturidade dos mesmos entre outras coisas. Entretanto, tentar resolver os problemas detectados antes de tomar atitudes que não possa levar adiante por conta das conseqüências que acarretam é mais um ato de rebeldia que de maturidade.

Sair de casa e não assumir sua nova vida inteiramente, ficar almoçando, jantando, levando roupa pra lavar na casa da mamãe é uma pseudo-independência.

Aproveitar o ambiente familiar para trabalhar suas dificuldades de relacionamentos é mais saudável que fugir deles e depois voltar a vivê-las com outras pessoas, entre elas o futuro cônjuge.

Fugir de pais autoritários sem resolver dentro de si mesmo a autonomia de decisões é levar dentro de si para outro espaço físico os pais introjetados que continuarão tolhendo seus movimentos a cada vez que desejarem realizar algo que acreditem não terão a aprovação dos mesmos.

Sempre que invertemos a ordem dos processos, temos que arcar com as conseqüências do atropelo que acarretam. Seguir passo a passo o processo de amadurecimento, desenvolvendo a competência emocional, aprendendo a lidar com uma coisa de cada vez, sempre que isto for possível, (as vezes a vida nos impõe uma mudança de planos) é amadurecer com ritmo e com estrutura, sem precisar voltar nos passos. Cada caso é um caso. Não há receitas prontas. Entretanto, aprofundar as causas e medir conseqüências antes de tomar atitudes que mudam o rumo de nossas vidas é sempre um conselho que serve pra todas as idades e todas as situações.

Vânia Portela